sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Livro do Desassossego

Minha alma está hoje triste até ao corpo. Todo eu me dôo, memória, olhos e braços. Há como que um reumatismo em tudo quanto sou. Não me influi no ser a clareza límpida do dia, céu de grande azul puro, maré alta parada de luz difusa. Não me abranda nada o leve sopro fresco, ou tonai como se o estilo não esquecesse, com que o ar tem personalidade. Nada me é nada. Estou triste, mas não com uma tristeza definida, nem sequer com uma tristeza indefinida. Estou triste ali fora, na rua juncada de caixotes.

Fernando Pessoa

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